Chuva na Maria Antônia

Discussão em 'Relatos de Viagens' iniciado por William Moya, 19/3/17.

  1. William Moya

    William Moya Active Member

    Pedra Bela, 24 de Janeiro de 2016!

    (Ao final deste texto coloquei o relato da Paty sobre o ocorrido)

    Desde que voltei do Atacama combinamos, Paty e eu, de irmos escalar e velejar na primeira oportunidade que tivéssemos.

    O feriado de São Paulo estava chegando, o Ben ainda estava de férias com a minha mãe (mas agora morando comigo =]]]]]]) e começamos a nos preparar para subir alguma parede por aí.

    Falamos com alguns amigos e a maioria ia para Arcos em MG, mas não dava pra nós. Pensamos em ir sozinhos escalar na Maria Antônia em Pedra Bela. Uma rocha que já fizemos uma vez com o Will e a Ingrid juntos.

    Preparamos o equipamento e marcamos de ir domingo. Sábado eu ainda tinha que comprar um guarda roupa pro Ben e fazer compras de mercado, além de uma faxina em casa hahaha

    Acordamos no domingo as 07h15, pegamos as coisas e seguimos para a rodovia.
    Iríamos tomar café no primeiro posto e no meio do caminho a Paty lembrou "Pootz, não olhamos a previsão do tempo, vacilo. "bom, olha aí" disse eu.
    A previsão era de possibilidades de chuva em 40% até o meio dia e 90% depois das 15h.
    Combinamos de chegar, olhar o tempo e decidir lá mesmo.

    Chegamos na base da Maria Antônia (não sem antes nos perdermos um pouco) e o céu estava lindo, sol moderado, tempo firme, nada de chuva a vista nem nuvens carregadas. Decidimos subir.

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    Montamos o equipamento e eu fui fazer a primeira enfiada na via 09 (eu acho). Analisamos a via, vi os pontos de apoio e parada e subi.

    Estava duro ainda, fazia tempo que não saíamos para rocha. Bastante tempo. Há meses estávamos somente nos ginásios e um pouco no DIB.
    Aqueci no meio da enfiada mesmo e cheguei na primeira parada sem muito esforço., mas a primeira parada é extremamente desconfortável, sem apoio bom para os pés e força muito o quadril na cadeirinha.
    Quando terminei de montar a parada a Paty disse:
    "- Lindo, você vai ter que descer, meu mosquetão emperrou e não abre de jeito nenhum.
    - Como assim emperrou, meu? tenta aí de novo, poxa, vai ser fogo descer e subir isso aqui de novo.
    - Não abre, já tentei, estou esfolando a mão aqui."

    Desmontei a parada, pois não sabia se subiríamos de novo, desci no rapel e ela me entregou o mosquetão que eu abri sem qualquer esforço rsrs

    Pensamos em seguir para a pedra do Santuário, mais tranquila e com certeza com mais gente, mas refutamos e combinamos que a Paty subiria a primeira parte agora , montaria a parada e a segurança e eu subiria até ela e guiaria até a segunda parada para economizar tempo.

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    Ela chegou sem problemas, montou a parada, mas estava muito desconfortável e reclamando de dor no quadril, mesmo assim me fez a segurança e seguimos o combinado.

    Cheguei na segunda parada, fiz todo o procedimento de novo e fiz a seg para ela subir. Ligamos os rádios porque não tínhamos mais contato visual e ela subiu de novo, sem problemas.

    A segunda parada era bem confortável e paramos para comer um lanche, beber água, reforçar o protetor solar e descansar um pouco. A vista ali já começava a ficar bonita.

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    Olhamos a terceira parada e decidimos que a Paty guiaria, seria a primeira experiencia dela guiando comigo na Seg. Responsa!

    Contamos os 5 grampos de apoio (Ps) e a parada, trocamos as costuras e ela deu início à subida.
    No terceiro P, mais ou menos, ela grita lá de cima "lindo ouviu isso?" e eu "nao ouvi nada".
    E continuou a subir.

    Eu estava de olho a todo tempo nas nuvens e qualquer mudança do clima. Observei longe, bem longe, uma nuvem mais escura e outra mais esbranquiçada. Fiquei monitorando as duas nuvens enquanto a Paty chegava na terceira parada.

    "Linda, chegou?
    Sim
    Se ancora, olha pro lado direito e vê se isso é chuva
    É sim.
    Vamos descer então, monta o rapel que acho que vem rápido.
    Blz, vou fazer isso e descemos."

    Em segurança não temos discussão, combinamos muito nesse ponto.

    Continua....
     
  2. William Moya

    William Moya Active Member

    Ela passou a corda nos dois Ps e desmontou o restante. Desci a Paty rapidinho.

    Ao chegar na 2° parada novamente ouvimos mais trovões e vimos que as nuvens estavam muito perto. Já conseguíamos ver a chuva.
    Calculamos o tamanho da corda x a altura e vimos que dava pra chegar na base se eu decesse ela de baldinho.
    Montamos o rapel de novo, um beijinho de boa descida e lá foi ela toda linda e rapidinho enquanto eu monitorava a chuva chegando.

    Nota 1: Em conversa com alguns amigos, nos chamaram a atenção, pois o mais indicado não seria o baldinho e sim o rapel com a corda meiada em solo. Concordo, mas de toda maneira, tomamos essa decisão consciente, baseado no tempo que tínhamos para evitar a chuva na rocha e na confiança que temos na nossa dupla.

    Ao pisar no solo, a chuva veio com tudo, forte, com muitos trovões e me pegando em cheio.
    Ela se assustou e começou a gritar para eu fazer o procedimento rápido, largar a parada lá e descer o quanto antes. Não dava. Eu não queria deixar a parada lá e o tempo a mais para desmontar a parada x o tempo para passar a corda nos dois Ps era quase nada.

    Puxei um pouco da corda e fiz um nó dentro do freio para não correr o risco de ela escapar, passei a corda pelos dois P's e o restante mandei pra baixo. A Paty, que ainda estava ancorada, não viu o procedimento, mas viu o resto da corda caindo, se assustou e deu um grito "LINDOOOOOOOOOOOOOOOO"
    Eu gritei de volta, "estou bem, estou aqui, foi só a sobra da corda".

    O problema de se perder a corda é que só com resgate dos bombeiros eu sairia dali. Não por ter qualquer acidente, mas porque não da pra sair sem corda mesmo. (pelo menos, não no nivel técnico que eu me encontro)

    Olhei pra baixo e disse "Me desce o mais rápido que der" e lá fui eu, pululando no rapel de baldinho, descendo, deslizando, escorregando. Olhei ao redor e havia uma cachoeira em cada canto da pedra, eu no meio.


    Quando faltava uns 25, 30 metros para chegar ela grita:
    "- Lindo, acabou a corda"
    - Como assim acabou a corda??????
    - Nós calculamos o esticão comigo descendo e você fazendo a segurança lá de cima, não com você descendo com a corda meiada
    - Putz, vacilo de novo."

    Nota 2: A Paty ainda estava ancorada na outra ponta, o que facilitou a decisão de irmos de baldinho e não ficarmos expostos caso a corda acabasse sem o "nó" na ponta.

    Esfreguei os olhos para tirar a água e o suor, olhei pro lado e vi uma parada à poucos metros.
    Gritei pra ela segurar firme a corda retesada e me balancei até a parada. Na segunada ou terceira tentativa consegui conectar a costura e me ancorei.
    Montei meu auto-seguro e puxei toda a corda na sequência para montar o rapel dali.
    O procedimento foi super rápido e quando fui soltar o auto-seguro vi que só havia passado o nó 8 no olhal de baixo da cadeirinha, não nos dois. Fazer as coisas com pressa é complicado. Por sorte, eu checo mil vezes antes de continuar.
    Desamarrei e refiz o nó passando certo agora. Testei o sistema. Desancorei e gritei pra ela me descer rápido de novo.

    A chuva estava mais forte ainda e muitos trovões, apesar de não termos visto nenhum raio.

    Cheguei perto do solo e vi que a Paty estava dentro de um "rio" que se formou com a queda dágua, com água até a coxa e todo o equipamento junto com ela.

    Consegui chegar ao solo, puxamos o restante da corda rapidamente e saimos daquele rio.

    Nos beijamos, nos demos uma cabeçada com os capacetes (tradição da nossa escalada), alguém falou "ufa, gostou da escalada" e rimos, rimos muito, tremendo que nem vara verde de tanto medo.

    Entramos no carro ensopados e fomos embora quietos, relaxados, com a sensação de "cara, o que foi isso?".




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    Fim!
     

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