Ana Chata com emoção!

Discussão em 'Relatos de Viagens' iniciado por William Moya, 19/3/17.

  1. William Moya

    William Moya Active Member

    2016 está um pouco complicado para conseguir escalar, então sempre que temos uma oportunidade tentamos aproveitar.

    Dessa vez o pessoal estava marcando uma abertura de temporada em São Bento do Sapucaí, em SP para Abril. Não deu certo. Maio passou batido, mas Junho veio que veio, deu certo e fomos para abrigo do Mika. Um pedaço bucólico no meio da mata que aconchega e acolhe.

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    Estávamos numa galera grande e, infelizmente, não guardei o nome de todos, pois sou péssimo com nomes, mas vou me ater a nossa escalada na Ana Chata repetindo, mais ou menos a mesma galera do ano passado .... LINK.
    Na saída para a rocha Will, Guilherme, Sandra, Luis, Cris, Cinthia, eu e Paty.
    O combinado era dividirmos em 2 grupos com 1 guia apenas para cada e os demais seguiriam de "top". Eu não tinha gostado muito dessa ideia, porque queria guiar, mas como ano passado não consegui guiar e esse ano estava um pouco mais destreinado, não questionei e concordei.

    Acabamos saindo um pouco mais tarde do abrigo o que nos custou uma dor de cabeça mais pra frente, mas demos início àquela trilha pesada para chegar na base da Ana Chata ainda de manhazinha.
    Fui carregando a corda no pescoço e na metade da trilha eu já estava quase morto, sem condicionamento físico ideal é complicado, mas era questão de honra terminar a via dessa vez e de top ia ser tranquilo.

    Chegando na base da rocha decidimos nos separar, Guilherme ia guiar eu, Paty e Cris na via Lixeiros e o Will guiaria a Peter Pan com a Sandra, a Cinthia e o Luiz, só não contávamos com mais 3 pessoas que já estavam na via Peter Pan quando chegamos.

    Nosso grupo resolveu se preparar na Lixeiros esperando a primeira oportunidade para dar início, mas
    de olho no grupo do Will para não nos desencontrarmos muito.
    Quando estávamos quase prontos, 2 escaladores chegaram para fazer a mesma via e como o pessoal da Peter Pan ainda não havia concluído a primeira parada, resolvemos deixa-los passar na nossa frente. Assim, no final, daria certo subirmos todos juntos e nos encontrarmos no cume. Foi quase isso.



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    Os três escaladores da Peter Pan estavam muito vagarosos, com muita dificuldade de chegar na segunda parada e isso atrasou demais o início do grupo do Will.
    Do nosso lado o vento também não soprava a favor. Os dois escaladores tiveram problemas na fenda e o guia deles machucou o punho ao atacar um lance.

    O Guilherme decidiu subir e tentar ajuda-los e após muita conversa lá em cima, os dois escaladores resolveram abandonar a via, pois o punho do guia realmente estava pegando. Decisão correta. A rocha está lá todos os dias.
    A Cris resolveu subir de top e me perguntou se eu não ia me preparar. Na hora pensei, respirei e fundo e disse "não, eu vou guiar". Quando prontamente meu querido amigo Will recplica "você vai guiar? tem certeza?" E digo que se eu não estivesse muito bem no psicológico aquilo teria me feito desistir.
    Ri da situação, o pessoal tirou um sarro, a Paty como sempre me apoiando e então mantive a decisão, eu iria guiar.

    Finalmente começamos a nossa via, os dois grupos. Will guiando os três na Peter Pan, Guilherme guiando a Cris e eu a Paty na lixeiros.

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    Quando cheguei na fenda, por um momento, achei que eu tivesse subestimado a rocha. Eu nunca tinha feito fenda antes e esse lance era bem difícil. Além disso foi ali que a outra dupla tinha se machucado.

    O Guilherme e a Cris estavam dando as dicas de cima e a Paty debaixo. Não sei quanto tempo demorei na fenda, pra mim foi uma eternidade, mas com bastante esforço consegui transpor esse obstáculo.

    Fiquei tão tenso nesse momento que depois disso, confesso que a guiada parecia brincadeira de subir muro na casa da vó.
    A Paty deu uma baqueada também na fenda, mas passou com maestria.

    Continuamos a via e logo mais iriamos encontrar com o outro grupo que estava mandando muito bem também. Havia uma parada conjunta para as duas vias e faria uma pausa ali pra comer alguma coisa e beber água.
    Ali também tinha um lance mais complicado para transpor, mas logo mais estaríamos no cume.

    Quando chegamos nessa parada o Sol estava quase indo e o Will começou a ficar muito preocupado.
    Como era para ser uma escalada na parte da manhã, nem todo mundo estava com head lamp e escalar no escuro e no frio, definitivamente, não seria legal.

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    Comemos alguma coisa bem rápida, o Guilherme já se mandou com a Cris e eu fui com a Paty na sequencia. Enquanto isso o Will terminava de dar a Seg para os demais.

    No lance posterior o Sol ia se pondo e eu fiquei muito emocionado pelo momento. Aquela cena, apesar de preocupante, por ainda estarmos na rocha, era linda demais. Cenário de filme. Coisa que só quem está nas alturas consegue ver.

    Assim que o sol se pos o frio veio forte e quem estava em condições logo se agasalhou.
    Eu e a Paty preparamos as head lamps e esperamos o Guilherme e a Cris darem cume o que fizeram extremamente bem.

    Eu fui na sequência e quando cheguei no "col", aquele trecho que é apenas uma crista da rocha, precipício prum lado, precipício pro outro. Eu parei e pensei "mas por que raios eu gosto de me enfiar nessas coisas". Pensei em como faria com a Paty ali e fui seguindo. O lance é muito mais psicológico do que exposto, mas é tenso mesmo assim.
    Para ajudar, meu amigo que deveria escrever um livro motivacional, Willian Moya, me grita "um amigo meu caiu dai, se quebrou inteiro, mas não morreu"
    P*** WILL, DE NOVO!!!!!! rsrs

    Passei, montei a seg, ligamos as head lampas e a paty veio com tudo. Passou mais tranquila que eu.

    Chegamos no cume, mandei uma mensagem pro pessoal do Abrigo avisando que estava tudo bem, mas ainda não dava pra comemorar, tínhamos que dar um jeito de ajudar os outros que estavam longe ainda.

    Deixei uma parada montada e dei seg pro Guilherme que desescalou até a parada onde estava o will. Montou um procedimento de corda fixa, guiando os demais e ficamos atravessando o pessoal até o Cume.

    Já se iam umas 20h e ainda não estávamos todos juntos, eu estava sozinho num ponto entre o col e o cume que ventava muito e tentei me abrigar atrás de uma pedra. Como a corda estava fixa eu consegui relaxar por um minuto e prestar atenção no céu por um momento e entrei numa paz momentânea incrível. Que céu, quantas estrelas, uma, duas, três estrelas cadentes em menos de 10 minutos.
    Deitei na rocha, encostei a cabeça na corda que estava enrolada no chão, apoiei a coluna na mochila e comecei a ir longe dali até que ouvi "ARUÃÃÃÃÃÂ A SANDRA TA SUBINDO".

    Volte do transe e começamos os trabalhos novamente. Em pouco mais de 30 minutos todos estávamos no cume, primeiro apavorados e logo na sequência aliviados.

    Bebemos o restante da água e antes que alguém pudesse relaxar o Will nos lembrou "Ainda temos duas horas de trilha pra descer, vamos!"

    E fomos.....
    Por Aruã
    Site: http://desligaateve.blogspot.com.br...:00-03:00&max-results=7&start=7&by-date=false
     
    Paulo Avila curtiu isso.

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