Agulha do Diabo

Discussão em 'Relatos de Viagens' iniciado por Rocha, 14/3/17.

  1. Rocha

    Rocha Moderator Moderador


    • - Estou vendo o pôr do sol!- Isso é bom ou ruim?
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    Era ruim. O pôr do sol estava lindo, mas ainda faltavam duas enfiadas de corda para chegar ao cume. Havíamos deixado nossas lanternas algumas dezenas de metros abaixo e a lua, minguante, só nasceria depois de muitas horas. Íamos descer no escuro e, para agravar a situação, eu estava sem agasalhos e a temperatura logo começaria a cair. A descida, na verdade, seria bem mais complicada do que eu imaginava. Por três vezes, teríamos problemas com a corda, que se enroscou de várias maneiras. Em pé, sobre o Platô Grande, um ombro com vegetação, eu contemplava a paisagem ao redor: os cumes do São Pedro, a Nordeste, do Mirante do Inferno, a Sudeste e da Pedra do Sino e do Garrafão, a Noroeste. Na parede em frente, uma placa metálica afixada na rocha homenageava os conquistadores que, na década de 40, abriram a via pela qual escalávamos, até hoje a única existente na Agulha do Diabo (na foto, a Agulha vista do Mirante do Inferno - © Maurício Grego, 1996).

    A Agulha é mesmo impressionante. Ergue-se verticalmente, de uma cela na extremidade do Caldeirão do Inferno, um vale de paredes íngremes e acesso difícil. Cercada por picos mais altos, fica oculta mesmo para quem percorre as trilhas mais populares do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Na vizinha cidade de Teresópolis, muitos moradores nem sabem que ela existe. A via de escalada, no lado Norte, tem uns 200 metros de extensão, com grau de dificuldade 4º IV A0. A parede sul, ainda virgem, passa dos 300 metros. Parece improvável que alguém consiga conquistar uma via de escalada livre nessa face. O mais provável é que ela acabe sendo, algum dia, vencida com técnicas de escalada artificial.

    Campo-Base
    Nosso projeto era bem mais modesto do que esse. Saímos de Teresópolis no dia 6 de junho de 1996, quinta-feira de Corpus Christi, depois de uma noite viajando de ônibus de São Paulo. Estávamos em seis: Bel, Hsu, Breno, Marcelo, Heleno e eu, todos com mochilas pesadíssimas às costas. Da portaria do Parque, caminhamos por quase um dia inteiro até o acampamento-base, uma clareira simpática à beira de um riacho no meio da floresta. O local tinha o espaço certo para nossas duas barracas. Felizmente, estava vazio. À noite, chegou um grupo de cinco paranaenses. Mais duas horas e vieram três montanhistas de Petrópolis. Milagrosamente, todos conseguiram se ajeitar na clareira.

    Choveu à noite e, no dia seguinte, saímos muito tarde do acampamento. Bel e eu ainda subimos até o Mirante do Inferno para fotografar a agulha e, de lá, tivemos que voltar à barraca para buscar os lanches que havíamos esquecido. O resultado é que entramos na trilha que desce ao Caldeirão do Inferno muito tarde. No caminho, cruzamos com os fluminenses, que haviam desistido da escalada. A trilha segue pelo leito de um riacho, rumo sudoeste, contornando o Mirante pelo sul, até encontrar um outro riacho, vindo do norte. Sobe, então, por dentro dele, em direção à cela, uma minúscula área de bivaque conhecida como Geladeira Modelo. O caminho todo é muito íngreme, pedregoso e úmido.

    Cachoeira
    Quando chegamos à base da via, a rocha estava bem molhada, com água escorrendo pela parede por onde deveríamos escalar. Hsu tinha feito a gentileza de abandonar algumas fitas penduradas em grampos. Com a parede transformada em cachoeira, escalar em artificial era a única maneira de, talvez, chegar ao cume. Mesmo assim, Bel e eu tivemos bastante dificuldade. Havíamos deixado nosso material de ancoragem móvel na barraca e sentíamos muita falta dele. Bel nunca havia escalado uma chaminé antes. Quando chegamos à base da primeira chaminé, ela - exausta e desanimada - resolveu desistir. Os paranaenses, bem mais rápidos, passaram por nós em seu caminho de volta do cume.

    Continuei a escalada sozinho, primeiro pela chaminé e, depois, pelo artificial que vencia um trecho completamente encharcado de parede. No final dele, estavam o Platô Grande, meus amigos e o pôr do sol. Abandonei lá uma parte do equipamento que eu levava e me encordei na metade de uma das cordas que os outros estavam usando para escalar. A via, nesse ponto, atravessa uma curta fissura inclinada (off-width) para, então, entrar na espetacular Chaminé da Unha. Esse trecho segue pelo vão entre a pedra principal da Agulha do Diabo e uma impressionante unha de pedra que se ergue paralela a ela.

    No Escuro
    No final da unha, um cabo de aço possibilita o acesso imediato ao cume. Quando cheguei, já estava praticamente escuro. A pedra era mesmo pontuda, com espaço para bem poucas pessoas lá em cima. A lua, minguante, demoraria muitas horas para nascer. Nossas lanternas haviam ficado na base da primeira chaminé, onde estava a Bel. Até lá, seria uma descida completamente às cegas. Hsu instalou a primeira corda e iniciou o rapel (técnica de descer deslizando pela corda). Os demais aguardaram, um a um, sua vez de descer. Eu me ofereci como voluntário para ficar por último e recolher o material.

    Quando chegou a vez do Heleno, a corda se embaraçou no cabo de aço. Com uma segunda corda, Breno desceu para ajudá-lo. Sem ter muito o que fazer, sentei-me encolhido sobre o cume, tremendo de frio e dando palpites sobre como os dois poderiam resolver o problema. No vale, um mar de nuvens encobria as cidades da Baixada Fluminense. No segundo lance de rapel, sobre a Unha, Heleno perdeu o equilíbrio, pendulou para a direita e foi parar quase dentro da chaminé. Na minha vez de descer, novo enrosco da corda no cabo de aço. Algum trabalho tateando no escuro e consegui desembaraçá-la.

    Mais Enroscos
    Quando cheguei à parada no topo da unha, a primeira corda de descida ficou presa. Tive que subir novamente pelo cabo de aço para soltá-la e, então, fazer a recuperação do equipamento. Na escuridão quase total, até mesmo desfazer um nó tinha se tornado uma tarefa das mais complicadas. Eu tinha que tomar o máximo cuidado para não deixar cair nenhum material e para não esquecer nada na parede. Quando cheguei ao platô grande, Hsu já tinha instalado a próxima corda, que ia até a base da chaminé onde estava a Bel. Por ela, conseguimos içar nossas lanternas. Podíamos, enfim, enxergar o que fazíamos.

    Na base da chaminé, constatamos um novo enrosco de corda. Alguém havia se esquecido de desafazer o nó de segurança na ponta da corda. Quando tentamos recuperá-la, ela ficou presa na ancoragem de rapel. Hsu escalou novamente pela chaminé e, em seguida, subiu o artificial para liberar a corda, rearmar o rapel e descer de volta até onde estávamos. Nesse local, nossas mochilas nos esperavam, com água e comida. Eu sentia muito frio, e, desde o cume, vinha sonhando com uma blusa que deveria estar na minha mochila. Quando cheguei, percebi que, em vez da blusa, eu havia pego uma calça de underwear, que seria inútil nessa hora.

    O penúltimo lance de rapel é feito a partir de um trecho horizontal da via onde há dois grampos, distantes uns dez metros um do outro. Não sabíamos ao certo em qual deles iniciar o rapel. Comecei a armar uma das cordas no segundo grampo, enquanto Hsu instalava outra no primeiro. Como ele já iniciava a descida, aguardei em posição. Se ele não aterrissasse no lugar esperado, eu desceria. Hsu desapareceu na escuridão e, poucos segundos depois, ouvi sua voz dizendo que o caminho era por lá. Recolhi a corda e o resto do equipamento e escalei de volta a horizontal. Em poucos minutos, estávamos todos na base, comendo os últimos chocolates e comemorando o sucesso da escalada.

    http://www.reocities.com/Yosemite/1151/agdiabo.html
    Por: Maurício Grego -- São Paulo, 16/jul/96
     
  2. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

    AGULHA DO DIABO

    Esta formação rochosa em forma de agulha fica no centro de um enorme 'Caldeirão' que a cerca quase que totalmente
    A altitude em relação ao nível do mar dessa região é superior aos 2.000m sendo que a agulha se destaca por ser um pouco mais alta que as enormes paredes que a rodeiam.

    No verão dizem que as nuvens, que chegam quase a encobrir toda a Agulha, ficam bem avermelhadas no pôr do Sol fazendo com que o local se pareça com um enorme
    caldeirão borbulhante expelindo fumaça, daí o nome Agulha do DIABO.
    A agulha pode ser vista enquanto se faz a travessia porém é do Mirante do Inferno que se tem a visão mais impressionante de sua grandiosidade. Eu nunca estive no Everest, pô!

    Sua conquista foi feita em 1940 ( lá existe uma placa comemorativa de 20 anos de conquista, datada de 1960).

    Os que pretendem apenas observá-la melhor ou os mais ousados que desejem escalá-la devem fazer a travessia até a Cota 2.000 (umas 7hs de caminhada desde a entrada do parque em Teresópolis) onde deverão abandonar a 'avenida' e entrar em uma trilha bem mais fechada mas que já está bem marcada. Após umas 2hs (+/-) de caminhada chega-se ao local de acampamento próximo ao Mirante. O local é uma pequena clareira no meio da mata ao lado de um riacho que será seu companheiro durante os dias em que você ficar por lá; Eu nunca mais me esquecerei daquele banho GELADO!!!! que tomei após já uns três dias sem ver a cor da água ou do barulho absolutamente ONIPRESENTE de uma quedinha d'água próxima às barracas durante toda as noites (mal) dormidas no local (mal dormidas não por causa das condições do local que são muito boas mas sim porque na barraca de 3 lugares que nós levamos, dormiram 4 e ainda por cima com 3 isolantes o que me fez dormir em cima de um vão entre dois deles, ai como é ruim).

    Voltando à descrição que é o que importa, se você ainda tiver fôlego sobrando após armar a barraca (no bom sentido é claro) vá até o Mirante do Inferno que fica a apenas 5min do local de acampamento por uma trilhinha bem demarcada. A visão daí é muito bonita como já disse antes. Tire algumas fotos da Agulha e volte logo pois você ainda tem que preparar o jantar...

    O dia seguinte para quem vai escalar a Agulha tem que começar bem cedo ( ou você quer voltar no frio e no escuro como nós fizemos?)(leia o texto na página do Maurício)
    Bom, já tomado o café (é!, essas coisas mesmo que você comeu) pé na trilha, que é a mesma que leva até o Mirante, porém agora você tem que ir contornando à esquerda até descer ao fundo do vale (da caldeira); lá embaixo continue seguindo a trilha que ela te levará até o pé da Agulha. No final de uma subida em direção à nascente de um riachozinho você vai ter que passar por uma mini-caverna que tem uma abertura no teto, faça um trepa-pedra e suba, passe as mochilas antes ou você vai ficar entalado.

    A última clareira que você observar antes da Agulha também serve como acampamento para quem quer ficar mais perto do local de escalada, mas não é muito recomendada porque aí faz muito frio (é conhecida como geladeira) e também porque não tem água por perto.
    Agora que você chegou até a Agulha é só calçar as sapatilhas, por a cadeirinha, se equipar com aquela tranqueirada toda e mãos (e pés) à obra.
    O nível da escalada não passa de um 4o. grau com um lance final que conduz ao cume em cabo de aço(A0).
    Os grampos P são bem antigos ( grandes e com uma boa parte da 'haste' pra fora) porém se estão lá firmes até hoje é porque são bons.

    Os dois últimos lances antes do cabo de aço são feitos em chaminé, sendo a primeira bem curta (-10m) e a segunda bem comprida (longos 30m) protegida por apenas dois grampos. Essa segunda chaminé fica dentro da que é conhecida por Unha que é nada mais nada menos que um enorme bloco (30m) de pedra em forma de unha que fica encostado! à pedra principal. Para chegar dentro da chaminé você tem antes que passar pelo Cavalinho que é uma fenda horizontal onde você tem que se encaixar deitado (de barriga pra cima) e ir se arrastando (uns 3m) até desenbocar na chaminé; o detalhe é que só pouco mais da metade do corpo se encaixa ( corpo de uma pessoa magra, quem tiver umas gordurinhas sobrando vá por sua própria conta e risco ) ficando a outra parte no vazio ( leia-se: um despenhadeiro de mais de 100m ), por isto certifique-se que seu corpo está completamente entalado e vá em frente sem olhar pra baixo ( eu olhei! )

    Saindo da chaminé são só mais uns 10m em cabo de aço e PRONTO! VOCÊ CHEGOU NO CUME! , agora é só assinar o livro que fica dentro da caixa e deixar uma mensagem para a posteridade; curta um pouco a SENSACIONAL vista ( se já estiver de tardinha você verá um chão de nuvens quase a seus pés ) e se mande rapidinho daí porque, não se esqueça, você tem todo aquele caminho para percorrer na volta ( e já está escurecendo! ); mas não se preocupe o caminho de volta vai passar rápido porque, eu tenho certeza, você vai estar com sua mente o tempo todo lá em cima das nuvens ( um pouco de mim ainda está lá, naquele local distante, mais próximo de

    Deus, onde nenhum homem jamais...<ctrl><alt><del>
    CHEGA!!!! que sentimentalismo barato, tá loco, eu hein!).

    http://www.reocities.com/Yosemite/3103/Orgao.htm#agu
    Por: Breno
     

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