Principais Lesões na Escalada

Discussão em 'Lesões e Acidentes' iniciado por Rocha, 9/11/16.

  1. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

    Na escalada, o atleta faz uso de todo o corpo e exige muita força principalmente de membros superiores (dedos, punho, ombros), pés e tronco. Nesse esporte existem vários tipos diferentes de pegadas (pegadas de membros superiores e inferiores) e elas podem levar a diferentes tipos de lesões. A pegada fechada, por exemplo, é uma das mais comuns nesse meio. Aqui o atleta segura na agarra com as ponta dos dedos quase encostadas na palma da mão. A pegada aberta, pinça, monodedo,bidedo, tridedo e invertida também são técnicas usadas para agarrar as estruturas que permitem escalar muros e rochas. O uso dos pés também é muito importante na escalada. Existem técnicas diferentes de posicionamento, como o interno, que é o mais usado na escalada, onde o apoio é realizado na parte interna do pé e hálux, externo, bico, foot hook, etc.

    A escalada desenvolve uma atividade muscular em esforço extremo e movimentos coordenados. Para realizar essa atividade é importante ter muita resistência muscular, pois muitas vezes o atleta deve se manter em uma mesma posição por um “longo” período de tempo até conseguir se posicionar corretamente e encontrar outra agarra para se fixar. Além disso, o escalador deve ter muita força muscular, principalmente em mãos e pernas, para realizar as subidas oferecidas nesse esporte. Com a evolução do esporte, o profissionalismo dos atletas e maior número de competições de alto nível de dificuldade, as solicitações do corpo durante o treinamento atingiram o limite físico do praticante, produzindo um grupo de lesões específicas associadas ao gesto desportivo do escalador. As lesões associadas à prática da escalada, são mais freqüentes nos MMSS, predominando em mãos, ombros e cotovelos, sendo pouco evidenciadas nos MMII. Estudos mostram que 60% de todas as lesões observadas em escaladores ocorrem em dedos e punhos e 40% em ombros e cotovelos. Essas lesões normalmente estão associadas a sobrecarga das estruturas músculo-esqueléticas, pois os MMSS nesse esporte fazem o papel de sustentação e deslocamento do corpo durante a prática esportiva e por isso, a exigência muscular é maior nessa região.

    As lesões são causadas pelo esforço mecânico e vascular imposto as estruturas, ocorrendo microrupturas nos tecidos antes de se tornarem sintomáticas, muitas vezes ocasionadas nos dedos por fricção, abrasão, etc. As cargas contínuas podem agravar o dano microscópio e formar uma tendinose, ou seja, apresentando alterações degenerativas do tecido sobrecarregado.
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    Nas mãos, a sobrecarga somada a um movimento realizado num padrão não fisiológico traumatiza o sistema cápsulo-ligamentar e tendíneo, provocando aumento da pressão intrarticular, aumento do atrito entre essas estrutiras e consequentemente desgaste articular, atingindo principalmente a Articulação Interfalangeana Proximal (AIFP). É muito comum observar nas mão dos praticantes de escalada hipertrofia dos ligamentos colaterais dos dedos e edema articular crônica por sinovites recorrentes. Uma das lesões mais comuns nesse esporte é a ruptura parcial ou completa da polia digital A2. Essa ruptura pode gerar uma sobrecarga na inserção do tendão Flexor Superficial do dedo, pois a força de tração do tendão sobre o osso não é distribuída efetivamente no túnel osteofibroso, o que faz com que esta força se direcione diretamente para a inserção deste tendão. Nesses casos, o atleta irá apresentar uma dor na falange média do dedo acometido. Além da tendinose, o praticante pode sofrer ruptura do tendão Flexor Superficial do dedo, levando a uma incapacidade em fletir a falange média, ou uma ruptura do tendão Flexor Profundo dos dedos, levando a uma incapacidade em fletir a falange distal do dedo. Outra lesão muito comum nesse esporte é a tendinopatia dos flexores dos dedos. Aqui, o atleta pode sentir dores similares a uma Sindrome do Túnel do Carpo, com perda de força dos dedos e parestesia similar a de uma compressão do nervo mediano.
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    Nos ombros e cotovelos, a sobrecarga também é o principal motivo de lesões. A tendinopatia do músculo braquial é muito comum entre os escaladores, sendo conhecida como “Cotovelo do Escalador”. Essa lesão ocorre por uma sobrecarga desse músculo quando existe uma insuficiência do bíceps em manter o membro superior em flexão do cotovelo e pronação do antebraço. Além dessa lesão, o escalador pode apresentar lesões dos ligamentos colaterais mediais do cotovelo (pelo excesso de valgismo durante certas técnicas) e rupturas de fibras dos músculos superficiais dos dedos e punho e do músculo pronador redondo.
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    Pelo ombro ser uma articulação de grande mobilidade, este se torna suscetível a lesões se o atleta apresentar uma instabilidade gleno-umeral e/ou escápulo-torácica. O posicionamento do braço do escalador durante sua prática esportiva pode favorecer a aparição de uma síndrome do impacto com possíveis tendinopatias e rupturas dos tendões do Manguito Rotador, principalmente se o atleta apresentar um déficit de ativação da musculatura periescapular (trapézio médio e inferior, romboídes, peitoral menor, serrátil anterior,etc). A tendinopatia da cabeça longa do bíceps e lesões de SLAP também são comuns nesse meio esportivo.
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    Nos MMII, as lesões de menisco e rupturas do ligamento cruzado anterior são as mais comuns, pois o escalador se mantêm em posição de hiperflexão do joelho, rotação externa da tíbia, e rotação interna do fêmur, o que leva a uma compressão do corno posterior do menisco medial. As lesões nos pés são pouco freqüentes. A neuropraxia dos ramos do Nervo Fibular Supreficial ocorre quando existe a compressão deste pela sapatilha de escalada, pois esta é muito justa ao pé.

    Fraturas de costelas, vértebras e pelve são comuns quando o atleta sofre uma queda, principalmente em escaladas livres. As fraturas de úmero e escafóide também são bastante comuns durante as quedas.

    É importante que o atleta de escalada faça um bom trabalho muscular, principalmente ´da musculatura de membros superiores, tais como os músculos flexores dos dedos e punho, músculos do manguito rotador e periescapulares. É necessário tomar cuidado com o número de repetições excessivo durante o trabalho muscular para que o atleta não sofra uma tendinopatia por sobrecarga e excesso de treinamento. Vale a pena ressaltar a importância de se trabalhar a fase excêntrica da musculatura de MMSS, principalmente dos dedos e punho (sistema de polia da mão), pois assim o escalador pode evitar lesões musculares dos principais músculos utilizados durante esse esporte. Um trabalho dos músculos do CORE também é essencial para o praticante de escalada, pois com um bom recrutamento dessa musculatura a sobrecarga em MMSS é melhor controlada, evitando lesões por overuse.

    Ft. Ana Carolina Villa-Lobos
    Referências:
    Friction between finger flexor tendons and the pulley system in the crimp grip position.
    LUMBRICAL TEARS IN ROCK CLIMBERS
    The influence of concentric and eccentric loading on the finger pulley system
    A2 and A4 Flexor Pulley Biomechanical Analysis: Comparison among Gender and Digit
     
    Francisco curtiu isso.
  2. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

    SEQÜÊNCIA DE LESÃO DO MANGUITO ROTADOR

    Conceito
    Ombro doloroso é uma síndrome caracterizada por dor e impotência funcional de graus variados, que acomete estruturas responsáveis pela movimentação do ombro, incluindo as articulações, tendões e músculos, ligamentos e bursas.
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  3. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

    O manguito rotador é um conjunto de 4 tendões que se localizam no ombro e envolvem a cabeça do úmero. Os tendões são: tendão supraespinal, infraespinal, subescapular e redondo menor. Esses tendões são essenciais para o bom funcionamento do ombro. São eles os principais responsáveis pela desaceleração do ombro, pelas rotações e por manter o ombro bem posicionado para que outros músculos maiores e mais potentes realizem sua função.
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    O que é e como ocorre a lesão dos tendões do manguito rotador?
    O local do ombro onde estão os tendões do manguito rotador chama-se espaço subacromial e tem uma característica peculiar. Esse espaço tem um "teto", chamado acrômio e um "chão", chamado de tubérculo maior do úmero. Esse espaço pode estar diminuído por diversas condições: um "teto" mais baixo, pela presença de esporões no acrômio ou por uma postura inadequada da escápula ou por um "chão" mais alto, pela fraqueza dos tendões do manguito rotador ou por movimentos repetitivos com o braço elevado. Além desses fatores mecânicos, existem fatores biológicos que fragilizam esses tendões: degeneração natural pelo envelhecimento, problemas vasculares locais (comuns nos tabagistas) e as tendinites (tendinopatias) crônicas. Traumas, fraturas e luxações no ombro ou trações do braço podem criar ou piorar pequenas lesões prévias. Também parece existir uma influência genética, que tem sido estudada mais recentemente. Em um espaço subacromial diminuído pode ocorrer um atrito nos tendões, chamado de síndrome do impacto. Esse atrito, associado aos fatores biológicos podem causar as lesões. Podemos considerar, portanto, que a lesão do manguito rotador é uma doença com muitas e diferentes causas.


    Quais os diferentes tipos de lesão do manguito rotador?
    Existem diferenças muito grandes entre as lesões do manguito rotador. Elas podem ser parciais ou completas (transfixantes) e podem acometer apenas uma parte do tendão, todo o tendão e mais de 1 tendão (são 4 tendões no total). Elas podem ter retração pequena, moderada ou grande. Os músculos podem estar degenerados ou não. Quanto maior a lesão, a retração e a degeneração, pior é a lesão. As lesões são mais comuns no tendão supraespinal, seguido do infraespinal e do subescapular.
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    Quais os sintomas e como é feito o diagnóstico da lesão dos tendões do manguito rotador?
    A maioria das lesões causa dor. A dor é semelhante entre os casos, sendo maior na região do ombro e se irradiando para o braço. Muitas vezes a dor é até maior no braço que no ombro, o que leva a muitos exames desnecessários, como ressonâncias do braço. A dor é pior à noite e piora com os movimentos do ombro para cima. A dor pode ser pior quando o braço está descendo do que subindo. A dor também pode irradiar para a parte de trás do ombro (a escápula) e próximo da região cervical, mas deve ser mais intensa no ombro. Em muitos casos de dor mais próxima do pescoço, a origem do problema está na coluna cervical, e não no ombro, e pode ser causada por irradiação de uma hérnia de disco ou de uma artrose cervical.
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    A) Local mais comum da dor nas lesões do manguito rotador B) Local da dor irradiada da coluna cervical

    A) Local mais comum da dor nas lesões do manguito rotador B) Local da dor irradiada da coluna cervical

    A perda de movimentos não acontece em todos os casos de lesão do manguito. Nos casos de lesão aguda e completa (transfixante) existe com frequência uma perda de força para levantar o braço ou mantê-lo afastado do corpo por alguma tempo. Essa perda de força pode ser leve (apenas fadiga muscular) ou intensa (impossibilidade de levantar o braço). Nos casos de lesão mais antiga (crônica) e não muito extensa pode haver uma adaptação e outros músculos e tendões podem compensar a rotura. Com isso, os movimentos podem ser próximos do normal, com pouca perda de força.
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    Os exames mais utilizados para o diagnóstico são a radiografia (para descatar outras doenças, como a artrose e para avaliar o formato do acrômio e a presença de esporões) e a ressonância magnética. A ultrasonografia também permite a avaliação dos tendões do manguito, mas apresenta uma acurácia inferior à ressonância e depende muito da interpretação do examinador.



    Qual é o tratamento da lesão dos tendões do manguito rotador?
    As lesões dos tendões não cicatrizam sozinhas. No entanto, nem todas as lesões precisam de cirurgia. As lesões parciais degenerativas dos tendões podem até serem consideradas como uma alteração normal do envelhecimento. A escolha entre o tratamento cirúrgico baseia-se principalmente na gravidade da lesão, na atividade e idade biológica do paciente e na intensidade da dor e perda de função. Uma lesão transfixante do tendão supraespinal de 1cm pode ser extremamente limitante em um paciente esportista de 50 anos, mas pode ser pouco sintomática em um paciente sedentário de 75 anos. Com isso, a indicação cirúrgica deve ser individualizada e bem discutida com o médico especialista em ombro.

    Lesões Parciais

    De modo geral, as lesões parciais do manguito são de tratamento não operatório, com reabilitação, anti-inflamatórios e correção postural, laborativa e esportiva. Algumas lesões parciais podem se romper por completo, enquanto outras podem se manter estáveis. As lesões da parte externa do tendão (bursais) estão mais propensas a romper e são mais dolorosas. Nessas lesões, o tratamento cirúrgico pode ser indicado. Nas outras lesões parciais, a cirurgia é indicada quando o tratamento conservador com reabilitação, corretamente feito por 3 a 6 meses, falha, ou seja, quando o paciente mantém dor e disfunção.

    Lesões completas ou transfixantes

    Nessas lesões, a regra é o tratamento cirúrgico para a maioria dos casos. As lesões completas podem ou não progredir e não há como saber quais tem maior risco dessa progressão. Sabemos que nos pacientes mais jovens (abaixo de 60 anos) ou nos idosos ativos, essas lesões progridem invarialmente. Além disso, quando uma lesão progride muito, ela pode se tornar irreparável, ou seja, mesmo com a cirurgia o tendão pode não retornar ao seu local de origem ou mesmo ter um risco altíssimo de re-rotura. No entanto, se o paciente tem uma demanda muito baixa e pouca ou nenhuma dor, a conduta pode ser não cirúrgica, realizando-se uma reabilitação adequada, evitando-se movimentos com o braço elevado e realizando um seguimento médico periódico para avaliar se há progressão da lesão ou piora dos sintomas.

    Como é o tratamento cirúrgico da lesão dos tendões do manguito rotador?
    As cirurgias para o tratamento das lesões do manguito rotador progrediram muito nos últimos 20 anos. A maioria dos cirurgiões de ombro realiza esse procedimento por artroscopia, que é uma técnica menos invasiva e que permite uma avaliação bem detalhada dos diferentes graus de lesão. Os métodos de sutura também evoluiram muito. Com essa evolução, o resultado melhorou muito para o paciente, com melhor retorno da força e função, melhora da dor e da cicatrização do tendão. Conforme discutido préviamente, existem diversos fatores que influenciam no resultado. Lesões muito grandes e com degeneração tem índices de cicatrização piores que as lesões menores sem degeneração. A recuperação pós operatória é variável. Até que ocorra a cicatrização do tendão, nenhum esforço deve sobrecarregar a sutura e comprometer o reparo, sendo necessário o uso de uma tipóia por 4 a 6 semanas. Atividades leves (como levantar o braço sozinho) e alongamentos completos são permitidos somente após 6 semanas da cirurgia. Esforço leve é permitido após 3 meses. Esportes ou atividades físicas podem ser liberados depois de 6 meses ou mais. É importante ressaltar que esses prazos variam de acordo com a qualidade e resistência dos tendões do paciente, do tamanho e do grau de retração da lesão e da opinião e experiência de cada cirurgião.



    Quais as principais complicações da lesão dos tendões do manguito rotador?
    As lesões do manguito rotador podem sofrer uma progressão de sua gravidade. As lesões pequenas (<2cm) podem se tornar extensas (>5cm) e irreparáveis. No pior cenário, as lesões extensas podem originar uma artrose, chamada de artropatia do manguito rotador, em que há uma perda importante da função na maioria dos casos, com dor intensa. Essa é a complicação mais temida e que tem seu risco diminuído quando as lesões são reparadas mais precocemente.

    Dr. Mauro Gracitelli
    Especialista em Ombro e Cotovelo
     
    Última edição: 10/11/16
  4. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

    Aquecimento, alongamento e fortalecimento do manguito rotador.
    Figura 1.jpeg Alongamento.jpeg Rotação interna passiva.jpeg Rotação externa Passiva.jpeg Trapézio.jpeg Infraespinal e redondo menor.jpeg Rotação Interna.jpeg Rotação Externa 2.jpeg Bíceps.jpeg Tríceps.jpeg
     
  5. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

  6. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

    Video com treino para fortalecer o manguito rotador
     
  7. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

  8. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

    Video com ilustração completa do funcionamento do ombro e manguito rotador
     
  9. William Moya

    William Moya Active Member

  10. Sansao

    Sansao New Member

  11. William Moya

    William Moya Active Member

    Vídeo para alongamento dos ombros direcionado para escaladores.

     
  12. William Moya

    William Moya Active Member

    rodolfo_raiol De fato, grande parte das lesões no ombro ocorrem no complexo muscular do manguito rotador. Após a lesão, quando a fase de fortalecimento é liberado pelo fisioterapeuta, a prescrição de exercícios de rotação interna e externa do ombro, que ficaram conhecido pelo nome de "manguito rotador", são prescritos para o fortalecimento da região. Mas a pergunta é: o "exercício de manguito" é realmente o mais eficiente?
    .
    39 indivíduos foram submetidos a 6 semanas de treino (3x/sem) divididos em 2 grupos de treinamento: um grupo que fazia somente exercícios isolados para o manguito rotador (tipo o da foto da postagem) e o outro grupo que fazia exercícios multiarticulares (desenvolvimento, apoio e puxadas) sendo que o mesmo volume de séries e repetições foi aplicado nos dois grupos.
    .
    Os resultados mostraram os exercícios multiarticulares foram mais eficientes na melhora do desempenho muscular do manguito rotador em relação aos exercícios específicos de isolamento. Os autores sugerem que para o fortalecimento do manguito rotador os exercícios multiarticulares devem ser priorizados e os exercícios de isolamento devem ser utilizados na correção de desequilíbrios musculares.

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