Agulha do Diabo

Discussão em 'Teresópolis' iniciado por Rocha, 16/9/16.

  1. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

    Agulha do Diabo
    Agulha do Diabo é uma formação rochosa com 2050 m, localizada no Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Seu acesso dá-se pelo Caminho das Orquídeas após a trilha da Pedra do Sino em Teresópolis.

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  2. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

    Resumo da sequência dos lances de escalada:
    1. Diedro (entalando pe e mao canaleta apertada, chamine) P1 (dupla e local para o quinto Rapel)
    2. Travessia longa e facil horizontal direita. P2 (segurança de corpo)
    3. Fendinha, diedro em técnica de chaminé, proteger com móveis. Friso horizontal para esquerda ate platô. P3 (grampo)
    4. Travessia para esquerda seguindo um friso para os pes. P4 dupla (quarto Rapel direto para P1 no retorno)
    5. Trilha até o colo da agulhinha (Diabinho). Trepa-pedra e grutinha e mais trepa-pedra ate chaminé.
    6. Chamine do L. Ir ate fim, passar por pedra entalada, quase sair, VOLTAR para o início, passar por pedra (oposição ou chaminé, proteger com móvel) até dois grampos (fazer em artificial atê o platô). P5 dupla (local para o terceiro RAPEL para início da chamine).
    7. Trilha ate o platô da unha.
    8. Lance do Cavalinho. P6 (grampo)
    9. Unha. Primeiro irregular e apertado, subir de costas para agulha até o platô. Segunda parte subir de frente para agulha. Regular e exposto. P7 no cabo de aco. (segundo rapel ate platô da unha por fora da chaminé).
    10. Cume. (primeiro rapel ate P7)
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    Última edição: 7/3/17
  3. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

  4. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

    Fonte:http://www.escaladasclassicas.com/escalada-agulha-do-diabo-serra-dos-orgao

    A Agulha do Diabo é considerada uma das escaladas mais lindas do mundo. Além do seu cume pontiagudo, ela fica cravada no meio da Serra dos Órgãos, cercada pelos pelos paredões de diversas montanhas com a Pedra do Sino e o Garrafão.

    Para fazer essa escalada, primeiramente é preciso entrar na sede do Parque Nacional da Serra dos Órgãos em Teresópolis. Após entrar no parque é preciso seguir por uma estradinha até a barragem, onde fica localizada a entrada da trilha para a Pedra do Sino.

    A trilha para a Agulha do Diabo começa pela trilha da Pedra do Sino, que é praticamente uma avenida na Serra dos Órgãos. Entrando na trilha da Pedra do Sino é preciso seguir sempre para cima, passando pela cachoeira Véu da Noiva e as ruínas do antigo abrigo 3, que atualmente é apenas um clareira com um gramado no meio da trilha, utilizada eventualmente como ponto de apoio ou parada para descanso.

    Logo após as ruinas do abrigo 3 existe a Cota 2000, que uma espécie de mirante com um grande bloco de pedra de frente para o Morro da Cruz. Poucos metros antes desse grande bloco, existe a saída discreta para a esquerda, é uma passagem meio fechada que vai dar na trilha de acesso ao Morro da Cruz.

    É preciso entrar nessa trilha de acesso ao Morro da Cruz, mas não é para seguir em direção ao seu cume. Em dado momento, antes de subir pela crista do Morro da Cruz, é preciso cair para a direita, em direção ao Paquequer.

    Contornando pela direita, logo em seguida começa uma descida, passando por algumas lajes de pedra, até chegar no vale do Paquequer. Chegando no vale é preciso seguir por uma trilha, cruzar dois riachos e depois por uma clareira que eventualmente é utilizada como camping selvagem para pernoite.

    A partir dessa clareira, a trilha segue em direção ao mirante do inferno, que deverá ser contornado pela esquerda, para acessar uma grota. Essa grota é uma espécie de calha com inclinação bastante acentuada, que desce em direção a Agulha do Diabo.

    Chegando no fundo da grota, é preciso cair para a direita, entrar em uma espécie de caverna com um buraco no topo, subir pelo buraco e depois continuar pela trilha sempre para a direita, em direção da base da Agulha do Diabo. Todo esse trajeto de trilha deve durar de 3 até 4 horas, dependendo da condição física e conhecimento do caminho.

    A escalada é toda grampeada, mas recomendo um jogo de friends para ajudar na proteção, bastam quatro peças equivalentes ao Camalot .5, .75, 1 e 2 para fazer com mais segurança.

    Um dos trechos mais conhecidos é o lance do cavalinho, uma fenda em diagonal para a esquerda, que dá acesso ao interior da unha. Esse lance pode ser feito deitado, geralmente “minhocando”de barriga para baixo, ou "pagando barra” com os pés no vazio ou em aderência. Outro lance bastante conhecido é a chaminé da unha, uma grande chaminé com abertura para os dois lados, que termina na pontinha da unha, quase no cume.

    O cume dessa montanha é um dos mais bonitos da Serra dos Órgãos, onde cabem apenas três ou quatro pessoas se equilibrando nas arestas, sendo uma escalada obrigatória no currículo de qualquer escalador!

    Dificuldade: 3 3sup C

    Conquistadores: Giusepe Toseli, Roberto Menezes de Oliveira, Raul Fioratti, Gunther Buchheister e Almy Ulissea

    Ano da Conquista: 1941
     
    Andrebaptista curtiu isso.
  5. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

  6. Rocha

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  9. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

    HISTÓRIA DA CONQUISTA
    A conquista da Agulha do Diabo - PNSO

    Palmas ecoam da Pedra de São João, de onde três companheiros observam o desenrolar da conquista.

    Manhã de 20 de Junho de 1941. Giuseppe Toselli começa a deslizar pelo musgo traiçoeiro e pede aos companheiros auxilio da corda. Cautelosamente, retrocede até o grampo anterior, firmando o pé. São 11:10 hs. Sem se intimidar, inicia então a perfuração da rocha para fixar mais um grampo, sem o qual seria impossível vencer a última etapa. Feito o orifício, Toselli não se detém para cravar o grampo e, apoiado na própria broca, parte para o lance final, atingindo o estreito cume da Agulha do Diabo às 11:35 hs. Palmas ecoam da Pedra de São João, de onde três companheiros observam o desenrolar da conquista. A seguir, sobem os outros integrantes da cordada: Roberto Menezes de Oliveira e Almy Ulysséa.

    Abraçam-se emocionados e fincam no vértice do rochedo a bandeira brasileira e a flâmula do CEB. Estava vencido o colosso de granito!

    A história, entretanto, começou cerca de três anos antes, quando Almy Ulysséa se deparou com fotografias da Serra dos Órgãos num exemplar de uma revista.

    Entre as fotos destacava-se a do "Penhasco Fantasma", tal como era conhecida a Agulha na época. Almy encantou-se pela montanha de 2.050 metros de altitude. Acompanhado por Günther Buchheister, Raul Fioratti e Giuseppe Toselli, passou a empreender uma série de explorações na região.

    Subiram a Pedra de São João, depois a de São Pedro, estudando as possibilidades de aproximação. Finalmente concluíram que um acesso viável seria pelo colo entre estas duas pedras, margeando o Mirante do Inferno. Por ali, o inseparável grupo chegou à base da escalada e outras explorações se sucederam.

    Em 24 e 25 de agosto de 1940, numa investida feita por Toselli, desta vez acompanhado por Edmundo Braga e Antônio Samarão o platô da Agulha foi atingido e dois lances foram equipados com cabo de aço visando agilizar as próximas tentativas. Duas semanas depois, em 7 e 8 de setembro, Toselli, Günther e Fioratti venceram a fissura horizontal situada após o platô, subiram a Chaminé da Unha e fixaram um grampo no seu final.

    Os meses se passaram, chegou o ano de 1941. Günther e Fioratti encontravam-se afastados do grupo devido a compromissos pessoais, porém Toselli e Almy continuaram o trabalho de conquista. No mês de Junho empreenderam três investidas em fins de semana consecutivos, sendo que na terceira Roberto Menezes foi convidado a anexar-se ao grupo. Concluíram que com mais uma investida chegariam ao cume.

    De fato, no quarto fim de semana, em 29 de junho, Toselli, Almy e Roberto partiram para o ataque decisivo e completaram com êxito a conquista do penhasco, trazendo para o CEB um dos sucessos mais notáveis do montanhismo brasileiro. A Agulha é, ainda hoje, um desafio, mesmo para os mais experientes alpinistas.

    Uma curiosidade: a denominação "Agulha do Diabo" surgiu de uma proposta de Günther Buchheister, ao constatar que onde existe Santo Antônio, São João, São Pedro, Dedo de Deus, Dedo de Nossa Senhora, Frade, Sino, Órgãos e Cruz, a presença do Diabo deve estar concretizada na forma daquela desafiadora Agulha ...

    Fonte: Boletim do Centro Excursionista Brasileiro - CEB de junho de 1991.
     
  10. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

    HISTÓRIA DO CAMINHO DAS ORQUÍDEAS
    Em 1938, Almy Ulysséa, Günter Buchheiter, Giuseppe Toselli, Raul Fioratti - todos do Clube Excursionista Brasileiro (CEB) - começaram a exploração da Agulha do Diabo, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, pelos Vales Santo Antônio e São João. Após muitas explorações na região, estudaram as possibilidades de aproximação. Chegaram finalmente à conclusão de que o caminho viável seria pelo "colo" entre São João e o Mirante do Inferno, para alcançar a base do Penhasco Fantasma (Agulha do Diabo). Em 29 de junho de 1941, ocorreu a conquista: Giuseppe Tosselli, Almy Ulysséa e Roberto de Menezes conseguiram a vitória.

    Este caminho de acesso tornou-se oficial por 17 anos. Para ter acesso à Agulha do Diabo era obrigado acampar no Vale São João. Na época, o material era precário, tudo refugo do Exército: botinas de soldado cardadas, barracas, mochilas, bornais, lanterna de carbureto, fogareiro a álcool, cantil, enfim, tudo era pesado, impróprio para montanha. A barraca, por exemplo, era constituída de dois panos de lona abotoados na cumeeira e pelos lados frente e traseiro. O pano do chão era improvisado, com um lençol em forma de saco cheio de folhas e capim. A barraca dava para dormir três montanhistas "apertados". Mastros e espeques eram improvisados com arbustos. Material de Escalada: duas cordas de sisal de 12 mm com 30 metros cada, 5 mosquetões de aço (feitos no Corpo de Bombeiros); cordas de sisal, "solteiras" de 9 mm para cada participante, alpargatas feitas de fibras de sisal. Tudo era penoso, principalmente quando chovia, dobrava de peso; frustrados, tínhamos que voltar para casa.

    Daí resolvemos - eu (Salomyth) e Minchetti - partir para uma alternativa: utilizar o Abrigo 4 para o acesso à Agulha.

    2ª Via para Agulha - 10/10/1958

    Em 1958, após quase duas décadas de tantas frustrações, eu (Salomyth), Minchetti e Henry Ochioni, resolvemos achar uma 2ª via para o acesso à Agulha do Diabo. Subimos e descemos São Pedro em direção ao Mirante colocando dois grampos no paredão de São Pedro para facilitar a descida e a subida pela nova via, que demos o nome de "Paredão Mirante". Após passarmos o Mirante do Inferno, subimos o São João, colocando 1 grampo, que demos o nome de "Paredão Carioca" (C.E.C.), para melhor estudarmos o Vale São João. Assim estava inaugurada a 2ª via de acesso à Agulha, pelo "colo" (entre o Mirante do Inferno e São João).

    Estávamos todos contentes com a nova via; além de não ter de carregar barracas e apetrechos, tínhamos o Abrigo 4 por perto; porque, se chovesse, não ficaríamos frustrados, pois tínhamos 2 montanhas por perto: Pedra do Sino e São Pedro. Assim, poderíamos aproveitar o dia e não ficaríamos frustrados.

    Em julho de 1964, estávamos eu e meu companheiro Emídeo (falecido) indo em direção ao Abrigo 4 para irmos à Agulha e dormirmos neste abrigo, quando o vimos totalmente destruído. Foi um verdadeiro choque! Tivemos que bivacar. Tudo isto deveu-se ao regime militar instalado no Brasil em abril de 1964. O capacho do Diretor do P.N.S.O. - Eliovaldo Chagas de Oliveira (inimigo nº 1 dos montanhistas) lançou a pecha de "depredadores do parque". Ora! Os montanhistas, mais que ninguém, têm o máximo de interesse em conservar o inestimável patrimônio público.

    "Quanto mais escondermos o parque, melhor..." Com estas palavras, o administrador do P.N.S.O. encerrou as suas declarações a um matutino desta cidade (O Globo de 25/09/67)

    Em 4 de setembro de 1965, ainda restava de pé o Abrigo 3. Este abrigo ficava inviável devido à distância para a Agulha.

    3ª Via - 04/09/65

    1ª Investida - eu (Salomyth), Minchetti e Thiers, lançamos a exploração. Descemos o São Pedro pela via do Mirante, na base de São Pedro contornamos em direção ao Abrigo 3. Encontramos um forte Taquaral. Atravessamos o riacho Paquequer, mais adiante, numa parte plana, abrimos uma clareira que demos o nome de Acampamento Paquequer.

    2ª Investida - 05/09/65

    Partimos do Abrigo 3 (Cota 2.000), levando todo o material, inclusive machadão e foice em direção ao Riacho Paquequer (acampamento). Atravessamos o Riacho Açu e, procurando sempre que possível, em curvas de nível, abrindo e contornando o Morro queimado. De repente, no ardor da luta desenfreada contra um forte taquaral trançado infernal, com foice e facões durante 3 horas, deparamos com uma pequena clareira com árvores copadas: perto, uma pedra de bom tamanho - coberta de musgo (batizamos com nome de "Pedra do Tapete"), na qual pendia uma imensidão de orquídeas em flor.

    Paramos, sentamos para reverenciar, em silêncio, aquela inigualável maravilha. Tanta beleza que nos fez sentir uns invasores miseráveis daquele santuário dos deuses; beija-flores que saltitavam, zuniam com suas asas vibrantes, no afã de se alimentarem do néctar das flores. Bem que a natureza lutou contra nós, para proteger e preservar o Santuário com aquele maranhado taquaral que, a muito custo foi vencido. Mais tarde, infelizmente, destruída esta maravilha pelos vândalos - "caçadores de orquídeas" , quando souberam pelo noticiário. A princípio pensamos em batizar com o nome de Marechal Rondon (o último bandeirante que desbravou o oeste do Brasil, local denominado Guaporé - mais tarde, em 1958, passou-se a denominar-se Estado da Rondônia). Mas, devido ao fato acima citado, achamos mais poético e lindo o nome "Caminho das Orquídeas". Após mais 2 horas de luta conseguimos finalizar chegando no "Acampamento Paquequer" (Rio consagrado pelo romancista José de Alencar com o livro "O Guarani". Em 05/09/65, vitória! Congratulações! Cansados, mas felizes. Acampamos. Em 06/09/65, resolvemos fazer desta via um verdadeiro caminho.

    06/09/65 - Grande Limpeza

    Transformamos a picada em caminho. Muito trabalho mesmo. Cortamos troncos caídos a golpes de machado. Cortamos com foice e facões mais taquaras sobre a trilha. Assim concluímos a limpeza para sempre : o "Caminho das Orquídeas". Nesta limpeza, surpresa! Ganhamos uma bela chaminé na Face leste de São Pedro; colocamos 2 grampos e batizamos de Chaminé Cassim (em homenagem ao grande alpinista italiano Riccardo Cassim).

    Em 10/09/65, voltamos para concluir a conquista da Chaminé Cassin. Surpresa! Abrigo 3 também destruído pelo nefasto Administrador Eliovaldo. Na Chaminé Cassin, colocamos mais 15 grampos, perfazendo o total de 17 grampos. Assim concluímos a conquista. Vitória! Saudamos a Chaminé - Salomyth, Minchetti e Thiers. Tivemos que bivacar novamente no Acampamento Paquequer.

    O caminho das Orquídeas tornou-se o mais viável pelos montanhistas para escalar a Agulha do Diabo, São João e São Pedro (via Chaminé Cassin ou via Mirante). Pode-se fazer o circuito completo: cota 2000, caminho das Orquídeas, Chaminé Cassin ou Via Mirante, São Pedro, Baleia, pedra do Sino, cota 2000. Pode-se aumentar o percurso, indo à Pedra da Cruz, Caminho da Neblina, Queixo do Frade, descendo pelo caminho normal para o P.N.S.O.

    Enfim, sinto-me feliz por ter aberto a 3ª via - caminho das Orquídeas - eu e meus companheiros Minchetti e Thiers, facilitando o acesso a todos os montanhistas à Agulha do Diabo - "A montanha do meu coração". Nesta montanha tive todas emoções, aventuras, sofrimentos e alegrias, das 37 vezes (cume) que escalei e as noites i-nes-que-cí-veis que passei no seu platô. Guardarei este sonho realizado bem no fundo do meu ser para sempre.

    P.S. em 05/09/2005, o Caminho das Orquídeas vai fazer 40 anos. Se eu puder até lá percorrer, ficarei ainda mais feliz ao contemplar do Mirante a minha, a nossa, Agulha do Diabo.

    Por Salomyth Fernandes - 30/09/2004.
    Fonte: Boletim de nº 557, do Centro Excursionista Rio de Janeiro - CERJ
     
  11. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

    Relato de escalada
    Na manhã após a escalada do Dedo de Deus despertamos no Rio de Janeiro. Saímos às compras para um café da manhã digno de reis, e após esse grandioso evento matinal, parte da equipe voltou para a cama para um segundo round; a noite de sono foi boa, porém breve. Enquanto isso, tentei entrar em contato com a portaria do PNSO para obter informações sobre os custos de entrada, pernoite e da trilha para a Agulha do Diabo. A falta de educação e de clareza por parte das atendentes do parque foi supreendente, mas eventualmente, consegui as informações necessárias.

    Para a Agulha é preciso pagar as seguintes taxas: entrada, trilha, estacionamento e pernoite, no caso de se resolver fazer em dois dias. Haviam então duas opções: seguir no mesmo dia em direção ao PNSO para comprar, até às 19h, a entrada para o dia seguinte e começar às 6h da manhã a trilha em direção a Agulha, pernoitando no camping; ou começar naquele mesmo dia a trilha e pernoitar em algum ponto do caminho (E.g. Abrigo 4, Rio Paquequer, Cota 2000, etc). A informação mais importante foi a de a taxa de pernoite no camping ou na trilha seria praticamente a mesma; assim, uma vez estando todos novamente despertos, deliberamos sair imediatamente em direção ao parque e começar a trilha o quanto antes. Tanto melhor seria adiantar uma parte do caminho naquele mesmo dia, pois estando em um grupo grande, precisaríamos de mais tempo para escalada do que de costume. Àquela altura, 15h, isso já significaria caminhar durante a noite.

    A primeira e maior parte do caminho é ampla e quase pavimentada com pedras, sendo um trecho da famosa travessia Petrópolis-Teresópolis. Esse parte do percurso dura aproximadamente 3h até o ponto da Cota 2000m. Lá há uma trilha que desde em direção ao Rio Paquequer, conhecido como o Caminho das Orquídeas. A entrada dessa trilha no entanto, é pequena e obscura. Mesmo tendo notado ela, julgamos que não se tratava da nossa trilha e seguimos adiante em direção à Pedra do Sino. Nesse momento, o GPS munido do tracklog se mostrou mais uma vez útil, pois logo acusou o erro de percurso. Voltamos e descemos pela mata fechada do Caminho das Orquídeas, desescalando trepa-matos, saltando buracos, atravessando riachos e engatinhando sob árvores; tudo com a atenção triplicada pelo perigo de cobras. A noite aguçava e aumentava a aventura daquele caminho, que tinha muitas bromélias, mas nenhuma orquídea. Depois de 50 minutos descendo chegamos no descampado junto ao leito do rio onde faríamos o bivaque.

    A hora era 22h45 e a noite já prometia ser muito fria. Posicionamos os isolantes térmicos lado a lado e os melhores saco de dormir nas extremidades. Uma lona ficou por cima cobrindo todos. O jantar foi servido, consistindo em comida liofilizada preparada com água do rio devidamente tratada (porém fria), ovos cozidos e algumas bolachas.

    Dormimos com os sons da mata e despertamos às 6h com o sol. Do descampado até a base da Agulha são mais 1h de caminhada por uma trilha que pode com justa causa ser chamada de uma pirambeira. Para encontrá-la é preciso subir em direção ao Mirante do Inferno, de onde há uma vista impressionante da Agulha do Diabo. Logo antes da subida para o mirante, há um caminho que segue pela esquerda leva em direção a um vale entre o mirante e uma grande parede de rocha, cuja parte de baixo recebeu o nome de Grotão. Nessa parte da descida as pedras estavam muito soltas e molhadas, e constantemente se soltavam. A medida que o caminho fica mais plano começa tomar a direita, passa por uma bica de água (um ponto pelo qual aguardamos ansiosamente na descida da escalada…) e subir em direção à base da via por uma escorregadia canaleta de água; onde recentemente um de nossos amigos, o Vitor Lécio, havia se machucado.

    A canaleta termina em uma gruta, conhecida como Geladeira. Esse ponto era antigamente utilizado para bivaques, mas recebeu esse nome pela fama de ser particularmente frio. Abandonamos todas as mochilas e nos preparamos para subir apenas com garrafas de água e alguns sâches de gel. Para chegar na primeira enfiada da via, era preciso entrar na gruta, fazer um lance de chaminé, sair pela buraco em direção a trilha e seguir mais alguns minutos. Finalmente na base da primeira enfiada vestimos as sapatilhas e abandonamos os tênis. Facundo se preparou e guiou o diedro que contava com alguns grampos para proteção. Como Davi observou, parecia muito fácil, mas não era exatamente “de graça”. Tive a mesma sensação, quando logo na saída, tive que me segurar à uma costura para não escorregar (foi a única vez durante a via). Seguindo a estratégia elaborada anteriormente, subimos nos dois e o Bruno em simultâneo, e o Thiago veio na outra ponta da corda fechando o grupo.

    Assim que cheguei na parada, antes mesmo de todos terminarem a primeira enfiada, continuei direto guiando uma travessia de 20 m para a direita sobre um grande barranco com o Davi na segue. Na metade havia um grampo, e na sequência alguns lances fáceis de escalada e desescalada. Logo todos seguiram e estavam num grande platô de onde fizemos a segurança ancorada em uma árvore. Procuramos por alguns momentos pela próxima enfiada até constatar que se encontrar subindo uma grande pedra atrás da árvore e seguindo por uma pequena trilha. Nesse momento, foi preciso um pouco de paciência de todos, pois fui acometido por uma forte dor…

    Chamado da natureza atendido e com a disposição recuperada, me preparei para guiar a próxima enfiada. Os primeiros lances são feitos com tranquilidade em técnica de oposição e logo é possível uma boa colocação de uma proteção móvel em uma fenda. Os lances seguintes são um pouco mais exigentes, sendo feitos em técnica de chaminé; mas uma um tanto quanto desajeitada. Quando não é mais possível subir para cima, é possível atravessar para a esquerda seguindo uma pequena fenda para os pés e uma ou duas agarras para as mãos. Saí em um platô com uma grande árvore, a qual lacei e dei início a segue dos meus companheiros.

    Assim que chegaram, Davi armou uma segue e Facundo começou a próxima travessia de aprox. 20m para a esquerda até uma parada dupla que fazia parte da via de rapel. Bruno se juntou a nós na parada e Thiago limpou a enfiada e fez o chato trabalho de gerenciar a corda. A próxima travessia iniciava com dois lances de desescalada e atravessava um passo bem delicado, protegido por um grampo, em direção à próxima trilha. Novamente subindo por trepa-pedras e pelo meto, chegamos no colo entre a Agulha do Diabo e Agulinha, de onte tínhamos uma visão privilegiada dos próximos lances da escalada: A chaminé do L e a chaminé da Unha.

    A chaminé do L tem esse nome, pois o melhor método de escalá-la consiste em andar até o seu final, subir até os bloco de pedras entalados (praticamente saindo da chaminé pelo outro lado) e andar de volta por cima dos blocos. Para sair dela é preciso fazer um lance em artificial pois a rocha não possui nenhuma possibilidade de colocar as mãos ou os pés, sendo completamente lisa. Para isso, foram colocados dois grampos. Quando cheguei nessa parte, Facundo – que havia guiado a enfiada – me convenceu a tentar fazer o lance em livre. Tentei uma difícil oposição na parede à frente que era negativa, mas me era impossível virar em direção a saída. Não havia onde segurar, e ainda por cima o Facundo mesmo me bloqueava a saída. Como método alternativo considerei saltar até uma pequena árvore mais à esquerda (estando de costas para a saída), mas ela não me pareceu muito segura. Vendo minha situação, ele confessou que havia pisado em um grampo. Brinquei xingando-o de trapaceiro e fiz o mesmo. Assim que saí do lance, conferi a árvore e de fato não teria sido uma boa ideia; estava frágil e mal enraizada.

    O platô da Unha, onde nos encontrávamos, marca o início da volta para aqueles que não estão preparados para os lances finais da Agulha do Diabo. A partir daqui haveriam apenas três lances, sendo que dois deles seriam o ponto alto da aventura: o lance do Cavalinho e a chaminé da Unha (nome que recebe a enorme placa de granito que se apóia sobre a Agulha); por último, haveriam os cabos de aço até o cume. Nesse local consumimos tudo que havíamos trago em nossos bolsos: barras de granola, gel de energia, bolachas; bebemos água e abandonamos a garrafa (que recolhemos no percurso de volta).

    Vendo o lance do Cavalinho, todos tivemos a impressão de que parecia menor do que nas imagens. Havia um grampo logo no início e concluímos que não seria muito exposto. No pior dos casos, o líder cairia em pêndulo, e o mesmo para o último. Facundo foi o primeiro a ir, seguido pelo Davi, Bruno e por mim. O lance apesar de fácil é duro e trabalhoso. Entalar a perna no fim da fenda cansa, e a medida em que começa a subir fica mais apertada provocando um esmagamento do escroto (esse sim foi um crux). Levei alguns momentos para conseguir sair e fazer a virada para a chaminé, que por sua vez é bem apertada. Lá dentro tive que começar a escalar imediatamente para deixar o Davi passar por debaixo de mim e vir fazer uma segurança (apenas de corpo) para o Thiago que viria fechando o grupo.

    Continua...
     
  12. Rocha

    Rocha Moderator Moderador

    A chaminé da Unha havia estado presente em meus pensamentos desde que li a primeira vez sobre ela. Esperava enfrentar algo aterrorizador e agora finalmente me deparava com a efetividade da coisa. Olhando para cima era difícil avaliar o tamanho do desafio, afinal não era possível ver o fim da chaminé que é curva. Podia ver um grampo aproximadamente dez metros acima de mim e sabia que ali haveria um pequeno platô para descansar. Assim, sem delongas comecei a subir em direção a ele seguindo o método tradicional de ficar de costas para a Agulha com os pés, ou melhor, joelhos na Unha. Os primeiros metros haviam sido bem apertados, mas quase na altura do platô a chaminé já é mais ampla e permite pôr os pés a frente. Agora, novamente de pé e olhando para cima a cena era diferente. Podia ver um grampo de aparência medonha praticamente saltando para fora a uns doze ou treze metros; mas o fim da chaminé continuava invisível. Como seria o lance para sair e subir até o topo da lacal? Haveria algum lugar para me segurar? Alguma proteção? Hesitei por alguns momentos e deixei o corpo descansar.

    Enquanto isso escutei Davi dizendo para Thiago começar a vir pelo cavalinho, e quase imediatamente pude escutá-lo dentro da chaminé. Que monstro! Fez o cavalinho por fora, com apenas uns quatro movimento protegido apenas por uma segue de corpo e não levou nem seis segundos!

    Ensaiei um começo de subida e treinei a descida. Não era difícil. Me coloquei na postura clássica para a segunda parte, isto é com os pés na Agulha e as costas na Unha e deixei uma fita pronta para laçar aquele grampo-relíquia. Respirei fundo e comecei a subir na pressão – o mais rápido que pude. Apesar de ser uma chaminé de tamanho relativamente confortável, era muito cansativa para as pernas. Quando cheguei no grampo já podia senti-las queimando. Protegi o mais rápido que pude, e olhando para cima vi que o fim estava próximo (da chaminé, e não da vida; felizmente). Lá haviam grampos e um cabo de aço dependurado em foma de alça. Tomado por um alívio continuei a subindo em uma posição mais confortável, protegi no cabo de aço e saí sem dificuldades da chaminé. Assim que me sentei no platô senti uma descarga de adrenalina e excitação. Olhei para a paisagem maravilhosa que me rodeava e gritei aos quatro ventos que a Agulha do Diabo era nossa.

    Um a um todos todos chegaram ao platô e começaram a subir pelos cabos de aço. Facundo veio primeiro e Bruno em seguida. Davi julgou perigoso confiar nos cabos de aço, como fizeram os dois primeiros e subiu com a corda. Na metade do lance, viu que este estava emendado e soltou um sonoro “Caralho!”. Laçou o grampo com um cordim e clipou na corda com um mosquetão. Na sequência subimos eu e Thiago para o cume.

    No dia dessa escalada completei vinte quatro anos, e sem dúvidas não poderia ter aberto um novo ano de vida em um lugar mais bonito. A equipe, por sua vez, também não poderia ter sido melhor. Meus agradecimentos sinceros ao Bruno Vale por ter sido o primeiro a topar o convite, pela raça que deu para estar presente, mandar as vias e suportar a escassez de alimentos de origem não-animal; ao Davi Marski por ter literalmente ‘feito acontecer’, além de ter mantido um olhar atento a cada detalhe, desde a organização da viagem à segurança do grupo na trilha e na montanha (sem sua experiência as coisas dificilmente teriam corrido tão suavemente); ao Facundo Pessacgpela disposição incansável, força e sobretudo coragem que tem demonstrado a cada vez que escalamos juntos; e ao Thiago Fernandes, pela paciência digna de um monge, e disposição para enfrentar qualquer desafio, desde guiar uma enfiada difícil até carregar as piores cargas. Por fim, meu agradecimento especial à Hard Adventure por ter vestido o grupo com produtos de alta qualidade que resistiram uso e abuso na mata atlântica e nas cascudas chaminés do Dedo de Deus e da Agulha do Diabo.

    Fonte: http://www.marski.org/artigos/historiaserelatos/420-agulha-do-diabo-pnso
     
  13. Rocha

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