Nós tivemos um longo caminho, desde as dolorosas cadeirinhas de fitas até modelos mais elegantes e confortáveis, pesando menos de um Kg. Para ver o quanto evoluimos, com desenhos modernos e materiais com o estofamento confortável, forros de malha respirável e de corte a laser, tornaram estes obsoletos (apesar de terem sido inovadores no seu tempo). Em exposição na Neptune Mountaineering em Boulder, Colorado. Então fique instigado e veja caderinha modernas para escolher a sua. 1967-1968 - Cópia de um cinto do Leste Europeu, caseiro, pode ser montado usando corda ou cordelete. 1968 - Cinto de Bill Forrest - Vendido separadamente dos loops para as pernas (abaixo), para um melhor dimensionamento de tamanho. 1968 - Loop para as pernas de Bill Forrest os Loops e Cintos (foto anterior) eram sempre usados em conjunto 1970 - Cadeirinha de Whilans - Feito pela Troll, na Inglaterra, desenvolvido para a primeira ascensão da face sul da Annapurna. Inicio dos anos 1970 - Cadeirinha de Clan Robertson - Criado por Brian Robertson em Boulder, Colorado. Final dos anos 1980 - Cadeirinha abs da Troll - Tem uma larga possibilidade de ajustes pelas presilhas e não pode ser desfeita por segurança.
CADEIRINHAS DE ESCALADA por Mauricio "Tonto" Clauzet Antigamente, na época em que se escalava com cordas de cisal, o encordamento do escalador era feito simplesmente atando-se um laço feito com a própria corda ao redor da cintura. Qualquer um que ficar alguns minutos pendurado usando esse sistema certamente sairá completamente convencido da importância fundamental da cadeirinha. A cadeirinha também é chamada aqui no Brasil, dependendo da região, de baudrier ou de arnés. Hoje em dia podemos encontrar no mercado uma grande diversidade de marcas e modelos de cadeirinha. Existem cadeirinhas para escalada e outras para espeleologia e canyoning. O design e a concepção de cada uma é específico, voltado para sua aplicação. Não se deve utilizar uma cadeirinha de espeleo ou canyoning para escalar, a não ser para um top rope menos comprometido. As cadeirinhas de espeleo e canyoning não são projetadas para amparar quedas, mas basicamente para rapel e ascensão com jumares. Este artigo trata especificamente das características e propriedades das cadeirinhas para escalada, sendo que as demais fogem do escopo. Figura- Note as diferenças, que não são poucas: À esquerda uma cadeirinha para espeleo e canyoning, e à direita uma para escalada OS PRIMÓRDIOS Como já dito, nos primórdios não se usava cadeirinhas, mas sim a corda atada à cintura. A primeira evolução deste esquema foi o uso de fitas enroladas em torno da cintura e atadas com um nó. A corda era então amarrada à este cinturão de fita, conhecido como Swami Belt. A maior área de contato proporcionada pelas várias voltas de fita melhorou bastante o conforto, mas mesmo assim a situação era precária. Quando o escalador sofria uma queda, o cinto, por não ser preso também às pernas, tendia a subir e apertar as costelas e a tendência era "aterrissar" de frente, em uma posição próxima da ereta, chegando de frente e em pé contra a parede. A próxima evolução foi a introdução dos laços de perna (leg loops) que passaram a distribuir a carga não só à cintura do escalador, mas para as pernas, em uma região de músculos generosos e fortes, tornando tudo mais confortável. O DESENVOLVIMENTO ATUAL E PRINCIPAIS TIPOS EXISTENTES Hoje a maioria das cadeirinhas para escalada é feita com largas fitas de nylon, acolchoadas e fivelas para se vestir e regular a cadeirinha. Existem algumas cadeirinhas de corpo inteiro (full body), que passam não só pela perna e pela cintura, mas passam também por cima dos ombros. Esse tipo de cadeirinha não é normalmente usado para escalada em rocha, por tirar mobilidade e por não ser confortável em quedas, sendo mais usada para crianças, trabalho em altura ou travessia de glaciares. Atualmente, todas cadeirinhas de escalada em rocha passam pelas pernas e pela cintura do escalador. Em termos de concepção estrutural, existem uma série de variações, mas a principal, a meu ver, são com relação à forma de encordamento. Existem algumas poucas cadeirinhas em que os laços para as coxas são costurados de forma fixa à cinta, mantendo sempre uma distância fixa entre elas. Figura- Cadeirinhas com a parte inferior fixa à cinta. Em outras, a parte inferior, das pernas, é unida à cinta através de um laço de fita costurado (belay loop), mas construtivamente as partes são independentes, de forma que quando o escalador se encorda, deve passar a corda tanto pela parte inferior quanto pela parte superior, da cinta. Figura- Cadeirinhas composta de duas partes. Essa segunda forma construtiva é melhor, pois possibilita que quando ereto, em pé ou escalando, as partes inferior e superior se afastem dando total liberdade de movimento ao escalador. Quando acontece uma queda, a corda primeiro traciona a parte de baixo, as pernas, trazendo o escalador "automaticamente" para a posição sentado, para somente depois carregar a cinta e as costas do escalador. A outra concepção estrutural, onde a parte inferior é costurada de forma fixa à cinta, é mais utilizada para cadeirinhas de espeleo e canyoning. As cadeirinhas de escalada procuram distribuir 80% do peso para as pernas (coxas) e apenas 20% para região lombar (costas). A escolha de uma cadeirinha é algo extremamente pessoal, e deve-se considerar também qual será a sua aplicação. Diferentes modelos de cadeirinhas podem ser confortáveis para algumas pessoas e para outras não. Hoje em dia temos modelos desenhados especificamente para mulheres. Caso o uso da cadeirinha seja em clubes ou muros de escalada, é interessante ter regulagem tanto na cintura como na coxa, de forma que uma mesma cadeirinha possa servir no maior número de pessoas. Cadeirinhas para escalada esportiva, procuram ser leves, compactas, e não limitar o movimento. Em geral não tem fitas e acolchoados muito largos, e são pouco confortáveis para se passar muito tempo pendurado. Se a aplicação é para escaladas de longas, com paradas onde se faz segurança pendurado, ou big wall, deve-se procurar um modelo com fitas largas e acolchoados generosos, principalmente na cintura. Nesses casos, em geral procura-se um modelo sem regulagem (fivela) nas coxas, pois isso representa um peso extra e um ponto de desconforto. Já se a aplicação é em escaladas alpinas ou alta montanha, a regulagem na coxa passa a ser fundamental, pois permite que se coloque e tire a cadeirinha com botas, crampons ou esquis, além de se adequar à quantidade de roupa que você veste. Ao comprar uma cadeirinha, é importante prová-la em pé e se movimentando, mas também é fundamental fazer uma prova pendurado. Saiba que é perigoso a uma pessoa inconsciente permanecer pendurada através da cadeirinha. Uma vez inconsciente, todos músculos se relaxam e a pressão das fitas da cadeirinha podem trazer problemas sérios à circulação, e inclusive trazer risco de vida, após 10 minutos pendurado. OUTRAS CARACTERÍSTICAS E INOVAÇÕES Algumas cadeirinhas permitem que se retire a parte inferior sem ser necessário se desencordar, de forma que se possa resolver as necessidades fisiológicas assegurado. Essa é uma característica interessante para as mulheres, que tem o procedimento para fazer xixi um pouco mais complicado... A maioria das cadeirinhas possui também alças para pendurar material, os chamados racks. Algumas possuem mais racks e outras menos, sendo importante escolher uma com a quantidade adequada ao uso que você fará. Se você é um escalador esportivo nato, um rato de academia, provavelmente 2 racks são o bastante. Já se a sua aplicação é escalada usando proteção móvel ou big wall, você deve considerar a compra de uma que tenha 4 ou 5 racks. Algumas cadeirinhas tem um laço de fita costurado na parte de trás da cinta. Veja bem, esse laço, apesar de em geral robusto não é para se encordar ou fazer parte da sua proteção, ele é para prender a corda retinida (tag line) ou a corda do haul bag (haul line). Certos modelos possuem um material especial nos acolchoados que permitem a circulação do ar e permitem que a transpiração circule e seque. CUIDADOS COM A CADEIRINHA E SEU USO Sempre deve-se ler atentamente às instruções da sua cadeirinha. Cada modelo tem suas particularidades e é importante ler as recomendações do fabricante a respeito de como encordar, da passada correta da fita pela fivela e de cuidados, manutenção, limpeza, etc. Como regra geral, nunca deve-se encordar no laço de fita (belay loop) que liga a parte inferior e superior da cadeirinha. Deve-se passar a corda diretamente pelas duas partes, fazendo o mesmo caminho do belay loop. Existem diversos tipos de fivelas, e por isso é importante ver as instruções do fabricante. Como regra geral, a ponta de fita que sai da fivela deve sair na mesma direção e em sentido oposto ao que a fita entrou na fivela. A ilustração abaixo mostra a passada pela fivela mais comum, mas ressaltamos a importância de ver as instruções do fabricante para sua segurança. Figura- Passada da fita na fivela mais comumente encontrada. Sempre veja as instruções do fabricante específicas para o seu modelo de cadeirinha. As fitas e costuras de toda cadeirinha são feitas de fibras de polímeros, em geral nylon. Esse material normalmente sofre desgaste e envelhecimento e perde suas propriedades e resistência. Os raios do sol, principalmente o espectro dos raios UV, são extremamente danosos à esse tipo de fibra. Existem tratamentos de proteção contra os raios UV, mas mesmo assim não se deve expor desnecessariamente sua cadeirinha aos raios solares. Produtos químicos, como ácidos, básicos e solventes também podem atacar as fibras e o contato com estes materiais deve ser evitado de qualquer forma. O desgaste por abrasão também é sério, principalmente sobre as costuras. As fitas tem uma resistência maior à abrasão, mas atritos sobre as costuras podem ser extremamente perigosos. Areia e terra que penetram nas fitas e costuras também tem um efeito destrutivo ao longo do tempo, na medida que a cadeirinha é carregada. Nesse momento as fitas e costuras são tensionadas e os grãos agem como corpos agressivos que cortam as fibras, em um efeito que não pode ser desprezado ao longo do tempo, podendo levar uma fita à ruptura sob uma carga muito inferior à sua ruptura quando nova. Assim, deve-se sempre ter esse equipamento limpo, através de lavagem com água pura. Deve-se deixar secar à sombra. Uma cadeirinha, que não seja exposta aos agentes agressivos acima citados, em uso normal pode chegar à uma vida útil de no máximo 5 anos, contados a partir da data de fabricação. Como recado final, gostaria de lembrar mais uma vez que qualquer equipamento de escalada só vai funcionar adequadamente se você souber usá-lo. Isso é o mais importante, e disso depende a sua segurança e de seus amigos.